A Joana iniciou a sua diversificação alimentar aos 4 meses, com a papa. De acordo com a Prof.ª Ana Neto, pediatra da Joana e autora do livro “Conheça melhor o seu bebé” (Editora Temas&Debates), a papa é escolhida como primeiro alimento sólido principalmente porque é um alimento enriquecido em ferro mas também porque a adaptação ao sabor é mais fácil. Raramente, alguns pediatras preferem recomendar a sopa como primeiro alimento sólido, particularmente nas crianças com excesso de peso. Recorde-se que cada novo alimento vai substituir uma refeição de leite. Por outro lado, o número total de refeições diárias diminui.

Durante o regime exclusivamente lácteo, é habitual o bebé fazer seis refeições por dia, mas, com a introdução da papa e da sopa, é habitual fazer apenas cinco ou quatro refeições. A papa sem glúten é a mais utilizada para iniciar a diversificação alimentar. Esta papa, porque já contém leite, é reconstituída com água fervida. Também existem papas não lácteas sem glúten que podem ser utilizadas nesta fase mas, porque não contêm leite, têm de ser reconstituídas com o leite habitual do bebé. Neste caso, deveremos preparar primeiro o leite e depois a papa. A primeira papa deverá ser constituída apenas por um cereal, como arroz ou milho, pois o risco de alergia é menor. A sua consistência deve ser cremosa sem ser muito espessa.

Posteriormente, poderemos oferecer ao bebé papas com diversos cereais e frutos. De facto, é bom variar de papa para estimular o paladar da criança. Pelos seis ou sete meses, a papa pode conter glúten. O glúten é uma proteína existente no trigo e está provado que a sua introdução precoce na dieta da criança origina maior incidência de intolerância. Muitas farinhas para lactentes contêm iogurte, laranja ou bolacha, alimentos que são desaconselhados tão cedo, causando confusão nos pais. Por isso, importa esclarecermos que, apesar desses ingredientes estarem nas farinhas de forma modificada, chamada “hidrolisada”, devem ser administrados mais tarde.

Depois de a criança estar adaptada à papa, cerca de quinze dias após a sua introdução, podemos iniciar a sopa de legumes, que vai substituir outra refeição de leite. A primeira sopa deve ser simples, constituída apenas por água, batata, cenoura e cebola. Depois da sopa cozinhada e triturada de forma a obter-se uma textura homogénea, podemos juntar um fio de azeite. É comum o bebé comer cerca de 150cc de sopa ou duas conchas. Durante o primeiro ano de vida, não devermos adicionar sal à sopa da criança. Se a criança tiver dificuldade em se adaptar ao sabor da sopa, podemos substituir a batata por batata-doce e a cenoura por abóbora, por exemplo.

Cerca de quatro dias depois desta sopa simples, podemos adicionar progressivamente outros legumes tais como alface, feijão verde, alho francês, aipo, nabiça, abóbora e alho. Legumes ricos em nitratos como os espinafres, agriões, chuchu e beterraba não devem ser dados antes dos seis meses. Há legumes que podem causar flatulência, como a couve portuguesa, a couve flor e o nabo, pelo que devem ser introduzidos mais perto dos oito ou nove meses de idade. As leguminosas, como ervilhas, feijão seco ou grão, e o tomate não devem integrar a dieta antes dos doze meses. A introdução de novos alimentos deve ser faseada, com intervalos de quatro dias, e devemos oferecer um alimento novo de cada vez.

Entre os oito e os nove meses, o bebé pode comer duas sopas por dia, uma com legumes e carne e outra apenas com legumes, pois não deveremos exagerar na quantidade diária de proteínas de origem animal. A sopa deve ser cozinhada em utensílios de inox ou esmalte, podendo ser congelada, imediatamente após a sua preparação. Na criança que iniciou a alimentação sólida aos quatro meses, a carne é introduzida por volta dos cinco meses, ou seja, quinze dias depois de ter iniciado a sopa de legumes. Inicialmente cozinha-se a sopa de legumes com a carne, a qual se retira no final da cozedura. Neste caso, não se adiciona azeite pois a carne já contém gordura.

Cerca de quatro dias depois, já se oferece a carne ao bebé. Então, cozinha-se a carne e a sopa de legumes separadamente. Depois dos legumes cozidos, retira-se a quantidade que se vai dar ao bebé, cerca de duas conchas, e junta-se a esta porção 20grs de carne cozida. Tritura-se então esta mistura até obter uma sopa homogénea. Antes de oferecer a sopa ao bebé podemos juntar um fio de azeite, uma vez que a sopa não tem a gordura da cozedura da carne. Nesta idade, o bebé deve incluir na sua alimentação carne branca e/ou magra, como frango ou peru, borrego ou vitela.

Mais tarde, pelos nove meses, podemos dar também coelho ou avestruz. A carne de porco não deve ser oferecida antes dos dois anos de idade e deve ser sempre bem passada. A fruta, fonte de vitaminas, é o próximo alimento a introduzir, geralmente um mês depois da carne. No nosso país, esta sequência é adoptada pela generalidade dos pediatras mas em alguns países europeus, a fruta é iniciada antes da carne. A fruta deve ser fresca, madura e oferecida crua, pois deste modo as vitaminas nela contidas são melhor aproveitadas pelo organismo. Deve-se começar pela banana, maçã ou pêra. A fruta deve ser dada como sobremesa, depois da sopa. A conhecida papa de fruta não é suficientemente nutritiva para constituir uma refeição, mesmo que lhe adicionemos bolacha. Porém, quando o bebé começar o iogurte, podemos misturar-lhe fruta e dar como lanche. Em relação a outras frutas, é importante não dar citrinos nem pêssegos antes dos doze meses, nem morangos e kiwis antes dos dezoito meses, por serem frutos altamente alergizantes.

Antes do ano de vida, podemos variar na fruta, com melão, uva, ameixa, melancia, papaia, manga, consoante a época do ano. Entre os frutos tropicais, a papaia é muito útil nos bebés obstipados, podendo ser introduzida logo pelos seis meses. O iogurte é introduzido entre os oito e os dez meses de idade em substituição ou alternando com uma refeição de leite ou papa. Nesta idade, o iogurte deve ser natural. Como o sabor pode desagradar ao bebé por ser mais ácido, podemos misturar fruta natural. Por outro lado, existem no mercado iogurtes naturais feitos à base de leite para lactentes, que são correctos para a alimentação do bebé, apesar de conterem adoçante. Urge nunca adicionar mel ou açúcar ao iogurte: o açúcar porque é um erro alimentar. O mel porque pode conter uma bactéria responsável por uma doença grave, o botulismo. Os iogurtes com sabores devem ser introduzidos mais perto do ano de idade e os famosos “suissinhos” apenas no segundo ano. O peixe pode ser introduzido na dieta pelos nove meses de idade nas crianças sem risco alergénico. O peixe, previamente cozido, é adicionado à sopa de legumes do bebé. Depois de passarmos a sopa e obtermos um creme homogéneo, podemos adicionar um fio de azeite, à semelhança do que sucedeu para a sopa de carne. O peixe pode ser fresco ou congelado e entre a pescada, linguado, solha, dourada, robalo, besugo e tamboril, a escolha é livre. Inicialmente, deveremos evitar os peixes mais gordos, como o salmão e o cherne, embora estes peixes contenham uma gordura saudável.

Quando a criança começa a comer a sopa com peixe, a sua alimentação diária inclui duas sopas de legumes, uma com carne e outra com peixe. Na criança saudável, a gema de ovo pode ser oferecida pelos dez ou onze meses de idade. Inicialmente, deveremos dar apenas meia gema e não mais que duas vezes por semana. Este alimento tem um elevado teor de colesterol, razão pela qual não se deve dar com maior frequência. A gema é dada como alternativa à carne, ou seja, duas vezes por semana, em vez da carne podemos adicionar a gema de ovo à sopa de legumes. Alguns bebés não gostam do sabor da gema: neste caso, é importante não insistirmos. Depois dos doze meses de idade, podemos dar o ovo inteiro, gema e clara (a clara é introduzida mais tarde porque é mais alergizante).

Durante o período exclusivo de leite, a quantidade de água de que o bebé necessita diariamente é fornecida pelo leite, tanto materno como artificial. A excepção são os períodos de calor excessivo em que a criança transpira mais. Mesmo quando os pais oferecem água ao bebé, é habitual ele rejeitar porque o sabor é menos agradável que o do leite. Todavia, aquando da diversificação alimentar, as refeições passam a ser mais sólidas, sendo adequado dar água ao bebé, que bebe se sentir necessidade. A água deve ser oferecida no intervalo das refeições, a fim de não prejudicar o apetite para os principais nutrientes. Até aos seis meses, a água deve ser fervida. Quanto à questão “água engarrafada versus água da torneira”: se a água canalizada da região onde os pais habitam é própria para consumo deve preferir-se a água da torneira. Na região de Lisboa, esta água é rica em cálcio e este mineral é importante para o crescimento da criança. Noutras regiões, é rica em ferro, o que também é bom para o bebé. Por outro lado, a maioria das águas engarrafadas são ácidas, pobres em cálcio e outras contêm sais minerais em excesso para um bebé. Contudo, podem ser uma alternativa nos locais onde a água da torneira seja muito salobra.

Algumas recomendações:

– Os vegetais não devem ser preparados com muita antecedência nem deixados em água porque perdem qualidades nutritivas;

– Quanto à conservação dos alimentos no frigorifico, importa mantê-los em caixas separadas e hermeticamente fechadas;

– Os legumes e a fruta devem ser refrigerados nos receptáculos inferiores e de preferência separados;

– Os alimentos cozinhados devem ser guardados nas prateleiras superiores enquanto os alimentos crús devem ser guardados nas prateleiras inferiores cuja temperatura é mais baixa;

– Ao congelar alimentos, podemos assinalar na caixa a data de congelação. Por outro lado, devemos iniciar a congelação antes dos alimentos arrefecerem por completo para evitar o desenvolvimento de bactérias;

– Podemos congelar leite materno mas ao fim de 15 dias no congelador ele perde o teor em constituintes imunológicos;

– O melhor material para congelar alimentos ou mantê-los refrigerados é o vidro, porque é totalmente inerte, ou seja, não tem reacção com o alimento;

– Podemos aquecer a sopa congelada no micro-ondas. Pessoalmente, o que eu faço com as sopas da Joana é retirar, logo pela mamã, uma dose de sopa congelada e deixá-la a descongelar no frigorifico. À noite, aqueço-a durante 30 segundos no micro-ondas. Retiro o recipiente, mexo a sopa muito bem (para evitar os pontos frios e os quentes) e aqueço durante mais 10 segundos.

Sofia Sousa
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